Marina de Madrid

A marina de Madrid é um pequeno ancoradouro onde no máximo 3 barcos por vez conseguem utiliza-lo de forma segura, podendo abrir se preciso o triplo disso em casos de emergência.

A marina está localizada a norte do rio Manzanare, em uma região não muito afastada do centro da cidade, mas longe o suficiente para as "impurezas" como o cheiro característico e a clientela que muitas vezes frequenta, não terem contato com a civilizada cidade capital da Espanha.

O rio Manzanare é um pequeno afluente de outro rio mediano que ainda deságua em outro grande rio para finalmente ir ao mar, portanto para chegar a esse rio, o capitão do navio deve saber muito bem o que faz, e esse fato também torna o rio bastante defensável em caso de uma invasão.

Vaine, você estava na marina de Madrid, pela primeira vez havia conseguido uma carta de autorização para negociar em uma marina, que apesar de pequena, tem uma clientela seleta, que compra e vende de tudo (menos humanos), sem se importarem da procedência.

Mas dessa vez uma maré de azar veio com você. Pegou uma tempestade violenta no mar, que por sorte e grande eficácia de seus homens vocês não foram a pique, e você achou que quando chegasse na marina de Madrid, conseguiria ficar mais tranquilo. Mas não foi bem o que aconteceu.

Não estava mais chovendo forte, sendo muito mais uma garoa, mas uma garoa fria e insistente que acabou por afetar o comércio. Ninguém queria sair nessa chuva, a não ser os mais necessitados, e além disso, a chuva parecia trazer mal augúrios.

A revolução que acontecia na França tem tirado o sono de muita gente... Humanos e outros seres, mas em compensação, contrabandistas tem lucrado um tanto quanto, pois nenhuma revolução como essa havia feito antes, pelo menos não do mesmo tamanho e mesma intensidade.

Mas nada disso o incomodava tanto, lógico que você havia preparado um comércio interessante para essa ocasião, mas talvez amanhã o dia fosse melhor.

O que lhe incomodava era um mulher que vinha perguntando por você. Não lhe parecia nenhuma autoridade, mas de algum modo todos respondiam suas perguntas sobre você sempre que ela queria. E inimigos e possível inimigos não lhe faltavam nesse ramo.

Vaine, você sai do barco, olha para um lado, olha para o outro e encontra uma coisa que
você procurava. Um senhor de chapéu coco azul com uma bengala na mão.

Poderia parecer a primeira vista um velho senhor, e até poderia ser, mas seu olhar treinado de pirata facilmente reconhecia o porte militar do bem arrumado senhor.

Ele parece notar você também, e sem muitas delongas, lhe cumprimenta e pergunta:

- Prazer sr. Vaine, espero que não tenha sofrido muito com essa chuvinha que tem caído. O pior ainda está por vir, e seu fosse o sr., não me delongaria nessa Marina mais que amanhã começo de noite, ou até melhor pós meio dia.

Mas vamos aos negócios, trouxe a encomenda?

Vaine, você o cumprimenta e o leva para dentro do barco onde uma tenda havia sido montada para que você pudesse fazer seus negócios a vontade.

Quanto ao seu contato, era nítido o saudosismo com a qual olhava o seu navio. Seu contato já fora marinheiro algum dia.

O entusiasmo do velho marujo se desvai por um instante quando você fala em troca de favores. A contrante sabia que o preço era alto, por isso deixou uma boa quantia em ouro para o velho marujo pagar a mercadoria que ela tanto queria.

Mas para pessoas acostumadas a lidar com qualquer tipo de pessoa, ela já imaginava isso, mas tinha dado a ordem de tentar evitar, pois um favor sempre deveria ser pago. Essa é a maior lei do universo, a lei do favor.

- Minha senhora previu essa sua jogada, e ela entende seus desejos, mas ela também gosta de ficar no anonimato, por isso me pediu gentilmente que fizesse uma contraproposta: O sr fica com metade do dinheiro, para custear as despesas de sua viagem, e o restante ela me pediu para lhe entregar esse anel.

A onde você estiver, haverá alguém que poderá lhe ajudar, sem perguntar os motivos para tal ajuda.

Espero que aceite essa gentileza de minha senhora, pois não é comum, sendo na verdade raro ela ceder tal favor a outros.

Dito isso ele fica com o anel na mão, mas meio oculto para qualquer um que pudesse vê-lo de longe.

Kotryna já estava chamando a atenção demais, baixa o capuz de sua capa e se esconde ainda mais, passaria por uma transeunte com pressa em seus passos. Atravessando a praça, seus instintos a levam para a Marina.

Uma rápida olhada, busca em seu entorno alguma pista do tal Ravnos, parecia que os Deuses tinham lhe deixado no escuro naquele momento, mas algo lhe chama a atenção, um barco. Um estalo em sua mente lhe diz, que ali tinha acabado sua procura.

Vai em direção ao barco, percebe dois homens conversando, o que ria lhe chamava a atenção, talvez tivesse informação, ou não! Ou talvez fosse o outro. Se aproximaria com cautela.

O Ravnos podia perceber a aproximação de uma bela mulher, jovem com um olhar decidido, a Telyav anda mais devagar para deixar que os homens percebessem sua aproximação:

_ Senhores ...

O velho marujo estava de certa forma contente pelo serviço, havia cumprido com os objetivos de sua senhora.

Na saida do barco encontra uma bela jovem, que lhe faz sentir saudades de sua juventude, mesmo sabendo quem era a moça, ou pelo menos o que ela é, e como não podia no começo do novo contrato já ter problemas com o novo empregado de sua senhora, ele diz:

Boa noite srta. E será mais bela ainda se uma beleza como a da senhora não ficar perdida por aqui onde muitos olhos da Igreja ficam atento a tudo o que aqui ocorre, acabar não caindo nas mãos da mesma.

Outra coisa, o clima irá mudar para pior em poucas horas, então meu caro amigo, eu zarparia o quanto antes, ou ficará preso por aqui por ao menos uns 4 dias. O que acho que não é o objetivo de vocês.


Dizendo isso, ele sai de perto de vocês, entra em uma carruagem e some em direção as sombras da cidade.

A Sacerdotisa olha fundo nos olhos do Ravnos, o analisa para saber o que podia lhe acontecer ou quais eram os perigos, antes do outro homem sair, ela responde:

_ Não se preocupe comigo Senhor ... Estarei atenta ...

Logo volta sua atenção ao pirata, e se apresenta:

_ Me chamo Kotrynna Cotterel ... Os Deuses me enviaram até você! Só preciso saber o motivo!

Chegava a ser engraçado o que ela dizia, poderia até parecer uma doidivanas, mas não era. O Ravnos podia perceber, que ela só falava verdades.

_ Mas podemos começar com essa sensação estranha ... Você sente ou é só impressão minha?

Ela tinha um sotaque pesado, não era daquela região, talvez o Ravnos não soubesse de onde, ela fixa seus olhos para a rampa, esperando um convite para entrar ou ser ignorada.

A vidente sente em seu rosto a brisa morna, das palavras dos Deuses, um sorriso leve bem juvenil aparece em seus lábios, fecha os olhos como que aproveitando do momento, se delicia ao saber que Vaine sentia a presença deles, sua voz soava leve quase hipnótica:

_ Vaine ... Sou uma Sacerdotisa ... Sou uma vidente ... Não como os feiticeiros ou os magos, sou uma das ultimas remanescentes da minha linhagem ... E sinto que os Deuses lhe falaram de alguma maneira

Olha para os lados e percebe o que ele via em seus marujos, dessa vez um pouco mais sádica em sua palavras, lhe fala aproximando do ouvido dele:

_ Quanto aos seus marujos, ao atracarmos novamente, vou trazer algumas presas para que eles se deliciem ... Eu não sou fugitiva do Cardeal, sou livre e não pertenço a seitas, a não ser a minha própria ...

Sabia que precisaria negociar algo com ele, talvez dispor de seus dons seria uma boa estratégia:

_ Meus dons digamos "peculiares" ... Podem prover segurança a você e a seu domínio, e quando os Deuses sorriem para mim, posso prever o futuro, pode parecer confuso para um homem que acredita em seu próprio punho e músculos, mas é algo que poderia usar ao seu favor em sua jornada ... E isso me daria tempo para descobrir porque você apareceu em minhas visões ...

_ Ofereço meus dons a seu serviço capitão!


Ela toca levemente o braço do Capitão, depois faz uma mensura como se fosse um marujo em respeito a patente dele,  tenta captar na aura dele qualquer coisa que lhe desse pistas. Vaine pode perceber pelas palavras que Kotryna falava a verdade, e aparentemente não representava perigo.

A Telyav sente que ele escondia muito mais do que mostrava, era algo a se ter cuidado, os olhos deles penetram na alma negra dela, ele era o Diabo e ela a morte, na hora que os olhos de Vaine encontram com o dela, Kotrynna não desvia, apenas mostra do que também era feita. Ele sente como se visse mil fantasmas, um arrepio gélido percorre o corpo dele. Afinal ela era a sacerdotisa da morte, não era um desconforto apenas suas credenciais, uma bela dupla, Morte e Diabo.

_ Temos um acordo Vaine ...

Ela se aproxima dele e lhe estende a mão delicada e frágil para ele, parecia que com um aperto de mão mais forte seus ossos se quebrariam. Ela não carregava nada, apenas uma bolsa de tecido que foi feito por ela, alguns penduricalhos femininos, um anel com uma pedra verde e uma adaga pequena ritualística que ficava oculta pela capa que usava.

A nova e estranha parceria, se prepara e rapidamente zarpa da marina de Madrid, todos sentindo, incluindo os marujos, uma sensação de leveza, como se algo tivesse os feito segurar a respiração, e só agora pudessem respirar de novo.

Agora o "reino de Poseidon" os abraçava, e o barco pega um vento morno, que era o suficiente para empurrar o barco para o Oeste. Mas nada que com um pouco de manejo, também não conseguissem ir para o leste, ou qualquer outra direção. Os espíritos da água pareciam de bom humor, e os marujos pareciam ao mesmo tempo um pouco preocupados, pareciam mais leves, e até começaram uma cantiga (sem pornografia), uma cantiga antiga que falava de tempos imemoriais, onde os Deuses caminhavam entre os homens.

Kotryna: Pela primeira vez em um bom tempo, você acha que não se lembrava da última vez que isso ocorrera. As vozes em sua cabeça pararam de falar. A presença delas ainda estava ali, mas fraca o suficiente para quase parecer que não estava.

Você tinha curiosidade em saber o que é a energia que vem da velha ilha dos Druídas, mas também havia uma curiosidade sobre o que acontecia em Paris. Uma cidade que você ainda não conhecia, assim como não conhecia a ilha da Inglaterra.

Nesse momento, você está mais nas mãos do seu misterioso capitão.


Vaine: A calmaria também lhe agrada, e apesar de menos do que seus marujos, você também se sentiu mais aliviado de sair das sombras de Monsada e da inquisição espanhola.

Os ventos eram mais favoráveis a irem cada vez mais para o oeste, indo em direção a Inglaterra, mas você sabia que podia contar com seus marujos para irem a onde quiser, ainda mais com essa benção que pareciam estar recebendo.

A cantiga dos Marujos o faz esquecer por uns tempos, seus receios, e o faz a lembrar do tempo de menino novamente, e de um tempo antes disso, ou será que era depois da infância? Você só sabia que por uns breves momentos você consegue relaxar, e sabe que ao menos parte disso se deve a presença da misteriosa e estranha cainita ao seu lado.

A Sacerdotisa andava silenciosamente, como que se não quisesse atrapalhar o andamento dos afazeres dos marujos, sempre descalça e magicamente perfumada com cheiros de ervas aromáticas, o cheiro se misturava ao cheiro dos velhos barris e dos odores dos humanos, vez ou outra Vaine podia perceber que ela se demorava a olhar para o mar e depois para os homens, parecia entretida e até aprendendo um pouco mais sobre barcos e marujos.

Ela se aproxima da beira e olha para todas as direções, não adiantaria recorrer aos Deuses e aos amigos do outro lado, eles estavam quietos mas estavam lá, teria que contar com a sorte de sua decisão e a do capitão.

_ Vaine ... Permita-me uma pergunta ... Para onde planeja ir ... Percebo o mar calmo, nos convidando para qualquer lugar que queiramos ir ...

Ela para de falar e fecha os olhos rapidamente para então abrir e encarar o Capitão com aqueles olhos negros e falar calma:

_ Mas sinto também que não seríamos bem vindo em território Ventrue ... França me soa agradável ... O que acha?

A sacerdotisa olha um pouco mais séria, não sabia se ele estava sendo sarcástico ou se ele estava sendo realista, mas obviamente ele não esperava nenhuma resposta dos seus Deuses:

_ Vaine ... Talvez seu ceticismo não consiga captar as nuances de alguém como eu, ou como se lida com o oculto, nem sempre vai ter uma setinha ou algo ou vozes do além me dizendo, vá Sacerdotisa siga por ali ...

E ela mesma deu uma gargalhada com o que disse, deixando o clima mais ameno entre eles:

_ Seria bem mais fácil não acha? Poderia até ganhar dinheiro com isso, quem sabe fazer adivinhações em troca de moedas, para as Senhoras sedentas por amor, talvez no cais de algum porto por ai ... Você me parece o tipo que elas adorariam por uma noite ...

E então volta a gargalhar para depois falar séria:

_ Veremos o que os espíritos dizem a mim!

Seus olhos ficam vazios, Kotrynna parecia enxergar através do Capitão, mas seus olhos miram o nada, o vazio ou talvez o caos.