Cothay Manor

Sentia em seu corpo a mudança feita pelas mãos do Demônio, sentia dores por onde os dados longos dele tinha tocado, tentava usar sua voz mas ela parecia ainda não responder corretamente, e era estranho o timbre que agora ela tinha, mais algumas olhadas no espelho para se acostumar com aquela visão.

Quando a primeira carniçal entra no quarto, ela aproveita e sai pela porta lateral, tentando se acostumar com aquelas vestimentas que ela pouco gostava, arranca os sapatos e toca o chão com seus pés. Se assusta ao ouvir os barulhos que ela fazia ao ser tocada, fecha os olhos para afastar a visão que tinha ainda em sua mente do amontoado de carne, se para ela tinha sido aterrorizante, para a carniçal ainda mais, chego a temer pela vida dela.

Se dirige até um local onde sabia que existia um espaço reservado, senta em posição de lotus e tenta sentir as energias ao seu redor, não queria presenciar a dor da transformação, precisava treinar sua mente, queria tentar alcançar a mente das pessoas ao seu redor, e isso ia requerer tempo e dedicação, já tinha aprendido algumas coisas, que iriam ajudar, no Egito tinha aprendido a dominar sua mente e a blindar, aprendeu o dom da meditação, mas tinha partido antes de aprender a se projetar fora de seu corpo, a transcender com a calma e esforço mental.

Ao se dedicar à meditação, sua mente é invadida novamente pela imagem do Vaine, com imagens de seu aprendizado, e a sensação de traição ainda rondava a mente e espírito da Sacerdotisa, que não mais poderia aparecer aos olhos de estranhos.

Retorna ao quarto no momento que o último carniçal tinha sido transformado, adquirindo um tom escuro de pele, parecido com os homens no Egito, ela sorri e se aproxima lhe falando:

_ Ficou formidável! Seu mestre tem um dom admirável!

Nesse momento ela beija levemente o lábio dele, mordendo com suas presas, e sugando um pouco de seu sangue, estava faminta e sabia que podia parecer uma invasão, mas ela precisava daquilo, passa a língua pelos lábios e aguarda que todo o ritual se complete, e então na sala contígua ao quarto em meio a conversa escuta em sua mente o espírito amigo e mentor lhe falar, troca olhares com o então Alexander e lhe fala:

_ Temos que nos aprimorar em nossas histórias, e detalhes não podemos falhar, temos um acordo a cumprir, e ao mesmo tempo nos cuidar, esse acordo foi um tanto pesado, e desconfio da real intenção do guardião, temos que descobrir mais sobre ele. Irei usar de meus dons para vasculhar o local, precisamos providenciar um laboratório aqui, para que eu possa também terminar de desenvolver estudos que vão nos ajudar!

Sente que seu amigo espiritual, começa a se afastar. Um sorrio alegre e quase juvenil ela direciona a ele, e aguarda que seu amante, lhe passe as impressões que tinha sentido daquele encontro. Apenas não descreve suas visões, nem a visão de Vaine, porque não sabia o que aquilo significava, em momento oportuno ela faria isso.

O Casal planeja os próximos movimentos de forma detalhada de forma a não deixar brechas para serem identificados. Só havia um pequeno problema nisso tudo, que era pela segunda noite seguida uma pessoa falando francês procurando um lar para seu senhor, já que os carniçais não haviam conseguido se usufruir dos poderes espirituais dos mentores dos dois cainitas.

Nenhum dos dois eram hábeis jogadores políticos, e pouco haviam tido contato com uma corte, principalmente como a de Londres, onde havia pessoas do mundo inteiro e seres deveras poderosos, principalmente Scarleth.

Nessa convers, com os carniçais presentes, quando um deles levanta a questão falando que não precisava se passar por franceses de novo. Ela (Lady Jane) havia aprendido muito bem um dialeto africano no tempo que passou no Egito com seu senhor, e quando caminhou pela ruas de Londres no dia anterior, ela havia ouvido pessoas falando todo o tipo de línguas. Então uma mistura de africano e francês poderia ser muito mais útil que alguém falando fluente inglês.

Alexander poderia muito bem ser um descendente Nórdico que não falaria bem o inglês, em quanto Scarleth poderia muito bem ter vindo do Sul da França, ou até mesmo do norte da África, visto cidades de lá falaram francês. Assim teriam boas justificativas a tudo. Só precisariam treinar um pouco nesse resto de noite.

Não era comum mulheres fazerem negócios, mas sempre havia os seus jeitos, e de qualquer forma ela iria acompanhada de Rendfield, que por agora ser negro, combinaria com a origem norte-africana.

A ideia parecia boa, muito bem plausível na verdade, mas tinha seus furos. Poucos, mas tinha, pois uma história perfeita não existia.

Agora só precisavam discutir os detalhes, de como a onde Alexander ficaria e de onde realmente viera. Pensões para viajantes ricos não eram incomuns, mas em uma época como essa, dessa crise na França que parecia espalhar pelo mundo, os viajantes eram mais raros.

Escuta atentamente o que dizia agora o então Alexander, sorria ainda se divertindo com as mudanças em sua altura e em sua voz, preferia as feições do Slavo, mas ela sabia que seria necessário, a chegada de ambos pode ter causado alvoroço por causa do porto, tinha sido a melhor estratégia até aquele momento.

_ Sim, terei cuidado com tudo … Não podemos chamar tanto a atenção, mas esse seu físico, com certeza irá chamar… A corte irá rastejar a seus pés … Cuidado!

Sorria sarcasticamente e acaricia a cabeça de seu companheiro enquanto se deliciava com seu toque, quando foram interrompidos pelo carniçal, se senta com pernas cruzadas, ponderando tudo o que era dito, sua mente trabalhava rápido, e talvez eles estivessem com razão no que era dito:

_ Eu creio que eles tenham razão Gniewko … Erh Alexander … Temos que ser os mais criveis em nossa história, para não dar furos e irem atrás de nós … Estamos lidando com a escória dos seres amaldiçoados …

Tinha um ressentimento muito grande dos VEntrues, foram eles os responsáveis pela morte de seu Senhor, e tudo o que eles tinham construído nas montanhas encravadas de Ceoris, se levanta e responde:

_ Eles não podem rastrear o que não existe, mas se eu vivesse na França, provavelmente teria uma capela, a qual eu deveria me apresentar e responder diretamente do Regente responsável, e assim eu poderia ser descoberta e rastreada e ai nossos planos poderiam ruir, eu poderia ser caçada por um alastor e eles não iriam desistir até descobrir minha linhagem … Não posso estar ligada a isso …

Alguns momentos mais, e ela tinha tido uma ideia:

_ Eu posso dizer “meia verdade” … Sou originária de Ceoris, de fato … Mas eu era humana que foi retirada de sua familia, eu era uma aprendiz, forçada e sendo manipulada através de dons dos mais fortes, meu conhecimento do natural era um recurso valioso, para eles entenderem os dons de seu clã Alexander …

Para de falar um momento, se lembra de como havia sofrido no ataque dos Tzimisce na capela e a revolta das gárgulas que culminaram em sua quase morte:

_ Como os naturistas são uma ordem extinta desde a época do meu abraço, posso me denominar uma Tremere que permaneceu solitária desenvolvendo estudos … Como eu fui abraçada e não passei pelo laço Tremere eles não conseguem me rastrear … Mas aqui eu teria que me apresentar na Capela, mas pelo que entendi não existem muitos na cidade, o que me ajudaria …

Aguarda que seu companheiro absorva as palavras ditas, afinal quando ela era humana e os Tzimisce a libertaram de uma prisão porém a quase destruíram. Mas ao mesmo tempo tinham dado a chance dela se encontrar na maldição e se dedicar aos estudos naturais de sua família humana sem ser perseguida pela inquisição.

As palavras de Alexander causam impacto em Scarlet, ouvir que eles tinham que se separar, aquilo a deixava inquieta, não estava gostando de como as coisas iriam acontecer, e não esconde isso falando de maneira mais fria que o habitual:

_ Não estou gostando de termos que nos separar dessa maneira, contava com sua presença para que pudéssemos executar os rituais em conjunto e em segurança, estarei me expondo sozinha para sustentar o espirito faminto de nossa morada ...

O Tzimisce percebia que ela estava insatisfeita. Ela sente que aquilo era necessário naquele momento:

_ Precisamos combinar como vamos nos comunicar ...

Olha para os carniçais e para Alexander e por longos minutos pondera falando com a Lady Jane:

_ Você irá me auxiliar como Dama de companhia, vou precisar de ajuda com comportamento entre outas etiquetas das quais não estou acostuma ...

Vai até ao ambiente lateral que tinha uma mesa e escreve uma carta com todas as providencias que ela queria que Lady Jane fizesse, volta e entrega para ela. Se aproxima de Alexander e fala:

_ Não se esqueça de como nos encontramos e qual nossa real missão, além do que planejamos temos um laço com os Deuses, devemos nos manter fieis um ao outro, ou nada dará certo! Não importa o que aconteça Gniewko! Lembre-se disso!

Se aproxima dele, se enlaçando em seus braços e beijando-lhe a testa, um sinal de carinho que ela mostrava, algo que ele não estava habituado, era o resquício de humanidade que ainda mantinha em seu espirito.

Cheiro de morte... era isso que o casal sentia. Estavam em uma Londres completamente deserta, com corpos se decompondo pelas ruas, pois não havia mais ninguém para recolhe-los. Muitos cainitas haviam saído de Londres, outros entraram em torpor voluntário escondidos de outros vampiros, pois as leis cairam e cainitas caçavam abertamente cainitas.

O que havia causado essa calamidade, os dois não sabiam, só sabiam que a situação estava crítica e o mundo ao qual conheceram estava se desmoronando.

Ao fundo ouvia-se uma velha chorando,, uma mulher chorando, uma criança chorando, um bebê chorando. Um choro que se misturava e era impossível saber realmente quando era qual que chorava ou se era o choro dos 3.

Um brilho dourado é visto e os dois caem. Quando caem acordam na casa em Cothay Manor. Se foi um sonho ou um aviso, eles não sabiam.

Um cenário de horror, pelas ruas de Londres, nauseante aquela visão. Por onde olhava via caos e destruição, até mesmo a natureza estava definhando, aquilo não podia estar acontecendo, o cheiro de sangue e carne apodrecida. Um choro baixo de criança, sendo engolido por outro e mais outro, aquele som sinistro reberberava pela mente da Sacerdotisa, a demonstração de que algo tinha dado errado, se movimenta para buscar de onde vinha, e no momento que tocava a porta de uma casa caindo aos pedaços, uma luz dourada invade sua visão, era a morte final.

É despertada pela voz de seu companheiro, grava em sua mente todos os detalhes daquele pesadelo, ou seria um aviso? Abre seus olhos e encara os de Alexander, e com um pesar em sua voz diz, convicta de que algo iria acontecer:

Partilhamos da mesma visão, partilhamos do caos e dessa sensação de um triste final para nossa maldição … Alexander … Não foi um pesadelo! Foi um aviso! Tenho que explorar essa porta aberta para nós …

Sem se levantar ainda, ou se mexer ela pondera o que foi dito:

_ Faremos contato para sabermos se estamos vivos, tenho métodos para descobrir facilmente, mas os espíritos sob meu comando podem chamar muito mais atenção! Deverá estar sozinho, daqui 72h em seu quarto ou algum lugar que não possa ser interrompido, na ultima hora antes do nascer do sol! Não se esqueça disso! Manda noticias por eles, ninguém conseguirá ver a não ser que eu queira …

Beija levemente a mão que lhe acariciava de forma cuidadosa e carinhosa, o pouco de humanidade que restava em sua perdida alma, levanta e vai em direção a porta de saída, em busca do local para começar a preparar os rituais, e a se preparar para se apresentar brevemente na corte, mas antes precisaria resolver pequenas pendências.

Lança na direção do General, um último olhar esperançosa de que aquela visão não fosse real e de que ele sobreviva, ainda tinham muito o que trilhar naquela cidade!

Kotryna vai até o subsolo da Mansão, um local que antigamente servia de calabouços, provavelmente de escravos ou era usado como prisão, não entrava luz de maneira natural, era protegido naturalmente, era o local ideal que ela realizasse os rituais de culto aos seus Deuses, bem como o usasse como laboratório. Diferentemente de outros Tremeres, ela não tinha um laboratório, a natureza era o que lhe fornecia material necessário, mas ela estava concentrada em aumentar seus poderes e isso precisava de estudos e prática.




No último degrau ela sente as energias do local e visualiza a disposição do que ela queria, algumas coisas já tinha sido providenciadas, logo estaria perfeito. Uma balcão e madeiras para dispor os materiais de estudos, vidrarias, essências de seus estudos para abrir a botânica, venenos e todos os tipos de ervas, logo ela mesma teria um local em seu refúgio próprio para isso, no momento ela se concentraria nos rituais,

Em posse de sua adaga com coloração esverdeada no cabo, ela faz um furo em seu pulso e deixa algumas gotas de vitae escorrer e com seu dedo, ela vai desenhando runas para proteção do local de rituais, ela tinha que renovar cada lua que virava no céu. Entoa cantigas de louvor aos seus Deuses que ela servia. Cultuava o Deus da Morte, o primeiro de todos os Magos Selianicos.




A Sacerdotisa fica aproximadamente 60 minutos para finalizar o local, e partir para o próximo e mais importante, a conexão com aquele local. Ao finalizar com a parca luz de uma tocha na parede, deixava o local amedrontador para aqueles que não estavam acostumados, os olhos negros dela brilhavam com a aquela visão.

Anda por toda aquela parte, até acertar exatamente o centro do local, despi de suas roupas e qualquer adorno humano e se senta em posição de lótus e começa a usar de sua potente concentração para usar as runas para predizer o que de fato tinha sido aquela visão.

Desembala elas de um saco feito de tecido que ela mesma fabricou abre o pano branco com aromas de ervas que era apenas para este fim e por fim escolhe um punhado delas e joga por cima esperando como elas cairiam para poder interpreta-lás

A antiga sacerdotisa se prepara para o ritual que desejava fazer, da mesma forma que fazia quando praticava quando viva e continuou quando cainita. Rituais antigos, de tempos imemoriais, muito antes de Cristo sequer ser imaginado. Uma era onde os Deuses eram os elementos da própria natureza e Mãe Terra era considerada a entidade suprema.

Porém desse vez algo estava diferente. Algo bloqueava sua ligação com a natureza, com Deus da morte, e precisou de muita concentração da cainita para conseguir finalmente se conectar.

E talvez não devesse ter feito. Foi como estar em um meio a um conflito de poderes, de energia. E o que conseguiu extrair do Deus da morte, a deixou mais confusa ainda, mas a mensagem era parecida com a que tinha visto na banheira da Discórdia. A natureza estava morrendo.

Cansada por causa do Ritual, Kotryna após pensar um pouco, enxerga uma realidade que não havia enxergado ainda.

- Estava realmente se distanciando cada vez mais da grande mãe;

- O espírito que guardava a casa de vocês não era um espírito forte somente. Ele poderia muito bem ter sido a representação de um possível Deus local.

Teriam que tomar muito cuidado para não ofende-lo e não deixar de cumprir os acordos. E com isso a Tremere se lembra que não ofereceu o sangue da noite ao guardião da casa.

Kotyryna tinha ficado cansada, a conexão tinha exigido muito de sua força de vontade, mas a mensagem tinha sido entregue e ela começava a achar que estava indo pelo caminho errado, mas aquilo ainda não estava tão claro, era um preço que ela ia ter que pagar, sua mente estava um turbilhão e precisava se acalmar antes de sua rotina noturna com a carniçal para poder se apresentar para a corte, mas antes tinha a paga de sangue.

Na mesma posição que estava, e faz um corte em seus pulsos e deixa a vitae escorrer pelas brechas das pedras, a terra por debaixo da construção consumia com voracidade, as chamas dançavam pelas paredes, pareciam espíritos livres. Ela sentia a energia pulsar, fecha os olhos e quando sente que a oferenda tinha sido feita, relaxa sua mente e sussurros são ouvidos.

Quando uma imagem toma conta de sua visão, um pentagrama no chão, símbolos desconexos com poderes ocultos, era um DEUS! O caos estava formado, algo estava corrompido! O cheiro de pólvora, tigelas com o sangue fresco de crianças, choro e lágrimas, corações batendo, veias em profusão, a mancha da inocência. MORTE! Era o cheiro da MORTE! Doce e profana!

Kotrynna desfalece momentaneamente, parecia que seu corpo e mente estava tomado pelo local, tinha imagens de tempos antigos antes da construção, seu corpo sente o impacto de tanta informação ao mesmo tempo, poucos minutos depois ela é despertada por um barulho de patas, seus sentidos estavam aguçados, era uma raposa vermelha em busca de alimento, o animal fica a encarando sem medo algum, deita no ultimo degrau e ali fica.

Quando ela se ergue no chão nua e com sua pele mais pálida ainda, dando um toque mais espectral, ela percebe que as paredes e o chão, tinham absorvido todo o sangue! Nesse momento ela sorri e tem certeza que agora pertencia ao local e os Deuses tinham aceitado, a oferenda. Recolhe o jogo de runas e se veste novamente, acariciando a raposa que lhe acompanha em busca da carniçal nos corredores do Mansão.

Kotryna, agora Scarleth, após doar metade de seu precioso Vitae para o espírito guardião em seu ritual diário, sai a procura da carniçal para poder se alimentar um pouco e também para decidir que rumo tomar essa noite. Havia muitas coisas a fazer e aprender, antes de querer se misturar com a sociedade humana e cainita local.

Andando pela casa, não tarda a encontrar a carniçal em um dos quartos organizando alguns papeis, e quando vê a senhora da casa, se levanta fazendo uma mesura e lhe mostra alguns papeis com desenhos dos locais que visitou durante o dia, e disse também que havia comprado escravos para que Kotryna pudesse se alimentar, e que também havia contratado alguns servos para trabalharem na mansão visto ser uma casa grande e dar muito trabalho para mante-la limpa e habitável.

Ao canto da sala, a Tremere podia ver algumas vidrarias que a carniçal havia trazido. Não eram muitas, mas já era um começo.

Scarleth ao passar por um espelho fica a se olhar por alguns minutos, ela gostava de sua imagem de nascença e demoraria a se acostumar com aqueles novos traços, até a cor de seus olhos mudaram, do negro profundo do caos, agora tinha a cor do mar, mais calmo.

Saciada ela dispõem seus pontos para aquela noite:

_ Pretendo que hoje, eu consiga avançar mais sobre meus estudos da linguagem corporal a que você trouxe a tona, diferente de muitos que conhecera, eu sou filha da terra, e são com os animais e as plantas que me uno e me sinto a vontade, esses panos e alegorias que hoje cobrem nossos corpos, são totalmente desnecessários, mas aprendi que a sociedade não é e nunca será como queremos, somos subjugados a vontade dos maiores que nós em poder ...


Percebe que divagava, a liberdade que tanto almejava talvez nunca conseguisse, olha com rosto divertido para a carniçal, com olhos juvenis aponta nos papéis um local:

_ Esse terreno é interessante, servirá para o proposito, preciso que consiga um servo que seja o atendente da parte diurna da botica, todos os manipulados e receitas "exóticas" serão feitas por mim aqui mesmo! Podemos usar como desculpa para termos acessos aos materiais.

_ Procure também entre os escravos, aqueles que sabem sobre agricultura que possa me auxiliar, no terreno dos fundos, vou construir um local para o herbarium, talvez eu desenvolva aromas diferenciais e assim conseguir me infiltrar, dentro da sociedade mortal, isso seria bom para nós!


Assim que termina de falar, a raposa de pelos vermelho e brilhante, se aninha aos pés da cainita, depois de um afago, volta a falar:

_ Não sei administrar bens e nem mesmo empregados, acho que isso é muito o obvio, sua ajuda é de suma importância, e sua dedicação não passará despercebida.

Escutava atentamente sobre a etiqueta que a mulher ensinava, sobre maneiras e modos. Scarleth teria uma enorme dificuldade, mas ela era resiliente e não desistiria. Sua preocupação maior, era planejar como faria sem chamar a atenção com o desaparecimento de crianças, ao se lembrar de sua visão, ela sente um arrepio involuntário que mais parecia um aviso.

A carniçal escuta com atenção as divagações e os desejos de sua nova senhora, e compreendia os mesmos, pois se queriam realmente se passar por nobres, deveriam aprender e aprimorar muito tanto a linguagem verbal, tanto a escrita, assim como a corporal.

Gniewko ainda com seu porte militar, se sairia melhor na sociedade humana, ainda mais uma machista como essa, mas Kotryna, agora Scarleth, precisaria de uns ajustes grossos e finos, começando sabendo como viver em uma sociedade populosa como Londres, e depois aprendendo a arte sutil de ser uma dama nessa sociedade. Pois havia muitos sinais e gestos sutis que muito poderia significar. Não para os homens, mas sim para as outras mulheres da sociedade, que adoravam reparar nas outras para criar as fofocas das cortes.

Carniçal: Tudo minha senhora, irei averiguar isso. Não será realmente difícil achar algum escravo ou serviçal desempregado que saiba manusear as terras, principalmente mulheres oriundas do campo. Arrisco a dizer que ainda existem mulheres que cultuam os velhos deuses.

Quanto a administrar a propriedade, bem, isso eu não posso lhe ajudar diretamente. Recomendo acharmos algum nobre menor falido e o "adotarmos" ele e a família dele, e para garantir que sejam leias a senhora, o ideal seria amarra-los com sangue. Se eles serão como eu e meus irmãos que sabemos a verdadeira natureza de vocês, isso ficará ao seu encargo. Mas ele precisará ser leal a você, e homens tendem a querer a passar a perna em mulheres solteiras.

Outra coisa, precisamos improvisar uma história para você. De onde veio? da onde veio a fortuna? Isso são detalhes que a sociedade costuma investigar bem, pois se virem qualquer franqueza na senhora, cairão como lobos famintos para lhe tomar a fortuna.

Ela estava sentada em uma bela e confortável poltrona, se levanta e anda pela espaçosa sala, observa os detalhes, pondera tudo o que foi dito. A carniçal tinha razão, a história tinha que ser bem amarrada, ou poderia colocar tudo a perder. Para de frente a janela e fecha os olhos, por longos segundos se deixa levar para algum lugar bem distante.

Se lembra de uma jovem da realeza que era descendente dos Habsburgos, quando os católicos tentavam tomar as famílias dos Ortodoxos, as conversas eram interessantes, e dali obtêm suas ideias:

_ Eu me lembro que quando a região da Romênia estava em guerra entre ortodoxos e católicos, muitas famílias de nobres se refugiaram, em Viena e Alemanha, eu posso ser descendente dessas familias, ou fui criada por uma que tenha perdido os filhos, e por isso herdei a riqueza, ou então juntar essa historia a um casamento de fachada, em virtude do que acontece em Paris pelos burburinhos que andei escutando pelas ruas, ou também uma viúva solitária, que o marido tenha morrido em algum acidente durante as viagens ...

Volta a se sentar e a imitar os trejeitos mais delicados da carniçal:

_ Acha plausível alguma dessas situações aqui em Londres? Podemos aos poucos cuidar dos pormenores para garantir que seja verossímil para aqueles que escutem sobre mim ...

Em quanto discutiam a história que mais combinasse com Kotryna, algo a mais acontecia fora daquela casa, algo que logo chama atenção da feiticeira e também da carniçal. Havia uma presença sinistra na região e que havia passado perto ou entrado nas intermediações da casa.

E da mesma forma que essa estranha presença apareceu, ela sumiu, não deixando mais nada dela ali, nem mesmo uma sensação estranha, como se nunca tivesse estado ali, deixando as duas belas mulheres pensativas sobre o que realmente aconteceu.

Uma coisa era possível perceber de diferente. Havia um silêncio no ar que elas ainda não tinham reparado, como se fosse um calmaria antes da tempestade, e algo dizia a feiticeira que uma tempestade vinha chegando. E iria tomar proporções bíblicas muito provavelmente.

Mas como toda previsão que já tivera, o tempo era incerto. Poderia estar na iminência de acontecer ou acontecer daqui a décadas, mas que a natureza já começava a dar os sinais da chegada da tempestade. Poucos iriam sobreviver a ela.

Seus sentidos aguçados afetaram até mesmo a raposa que eriçou seus pelos e ficou em alerta, sentia em seu corpo a resposta daquela presença que tinha sumido pela madrugada, como se não tivesse estado lá, olhares trocados com a mulher a sua frente, vai em direção a uma das janelas e se concentrando tenta sentir as energias do lugar.

Tentava pegar algo que viajava pelo ar, para tentar alguma pista do que era aquela previsão, algo muito sério que traria muitos danos a todos, principalmente a sua raça. Tinham sobrevivido as cruzadas, a diversas guerras ao redor do mundo. O que poderia ser que o Deus a tinha avisado sobre aquilo? Era de fato muito preocupante!

Ela deveria avisar a Alexander, mas era muito cedo para um contato.

_ Prepare algumas histórias e tenta no inicio do próximo dia localizar alguma família que poderíamos facilmente controlar ... Precisaria ter acesso a algum professor ou historiador que pudesse me auxiliar com relação aos adventos históricos da Europa, isso vai ser de valia dentro da Camarilla e na corte! Livros não acredito que teríamos acesso, a Igreja domina boa parte deste conhecimento ...

Não queria mais tomar o tempo da carniçal, e após algumas conversas mais sobre etiqueta e ensinamentos, ela se recolhe para a saleta que ela destinou a guardar parte do poucos pergaminhos que ela tinha acesso, que eram de seu criador, poucas folhas com uma linguá e simbologia que somente ela entenderia.

Dedica a leitura e alguns testes para aprimorar suas magias e no tempo e hora certa, prepararia o ritual dela de ligação com a terra daquele lugar que a Mansão pertencia, aquela invasão a tinha deixado um tanto preocupada.

A carniçal se retira obviamente apreensiva e pensativa sobre a missão que teria para essa e as próximas noites... Apesar de ser possível ver um sorriso de canto no rosto da mesma. Parecia que ela havia vindo planejando algo sobre o assunto a mais tempo que a Tremere pensava.

Em quanto focava em seus estudos, praticando um de taumaturgia e reforçando seus laços com os espíritos da terra, Kotryna se imerssa em uma visão onde estava de repente no caes de novo de Londres e uma batalha lá ocorria. A imagem era focada e não se podia ver os rostos de ninguém, e até então nada ali realmente chamava a atenção da sacerdotisa, até que a batalha é finalizada abruptamente por 2 pessoas que saltando de um prédio de 3 andares e com adagas gemeas (única coisa nítida na visão até o momento) começam a matar as pessoas que brigavam e logo após outras pessoas apareceram e terminaram a batalha.

Essas pessoas pegaram 3 baús que estavam no chão, os abriram. Um deles continha provavelmente armas, pois mesmo ofuscado os contornos de armas são dificeis de não reconhecer. O 2º havia ao que parecia roupas e foi de lá que eles tiraram uma adaga de prata. Imediatamente a besta interior da Tremere reagiu e a ligação foi cortada.

O que seria aquilo? Uma visão? Um sonho? Presente? Passado? Futuro? A Sacerdotisa não saberia dizer, mas algo naquela adaga chamou muito mais atenção do que simplesmente amedrontar a besta interior da cainita. Ela era o príncipio do fim. E por algum motivo, a sacerdotisa sabia que a adaga estava com o poder incompleto, com se algo estivesse faltando... Como uma irmã... uma alma gêmea que completaria o poder da mesma...

Focada como estava em interpretar a visão, a nova Baronesa não havia percebido a entrada da carniçal que trazia consigo uma série de papiros escritos, como Kotrina hoje Scarleth verá, tem as descrições da casa, seus donos anteriores, o que ela produz, como uva e oliva entre outras coisas, e outros papiros que tinham informações sobre a nobreza local, o que eles produziam, como também ávore genealógica de vários deles. Lógico que estavam desatualizados pois se tratava de documentos antigos, de mais de 10 anos, mas já dava um bom começo a Scarleth se inteirar sobre as pessoas humanas da nobreza.